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Capoeira na televisão francesa em 1963 — Mestre Pastinha em Itapoan

Relato da reportagem de 1963 do programa francês Les Coulisses de l'Exploit mostrando o grupo de Mestre Pastinha na praia de Itapoan; informações técnicas do arquivo INA e condições de acesso.

Em 1963, a televisão francesa mostra uma apresentação do grupo de capoeira de mestre Pastinha na praia deserta perto do farol de Itapoan, próximo de Salvador, Bahia. Agora podem baixar o vídeo de 5 mn La Capoera do site do Institut National de l’Audiovisuel (www.ina.fr).

Em pleno carnaval de 1963 chegou no Rio uma pequena equipe da televisão francesa dirigida por Henri Carrier, a fim de filmar reportagens para o programa mensal Les Coulisses de l’Exploit (Os Bastidores da Façanha), que apresentava fatos considerados como excepcionais, sejam estes esportivos, militares ou proficionais. Não perdeu tempo; a edição de vinte de março já mostrava cinco minutos de “Carnaval de Rio” com narração pela voz do apresentador Claude Thomas, que ficara na França. Em 15 de maio, outros cinco minutos enfocaram LA CAPOERA, narrado por Georges de Caunes.

O Institut National de l’Audiovisuel (INA), encarregado, na França, da arquivagem e da conservação dos programas de televisão (entre outras missões), começou em junho 2006 a botar em linha porções do seu arquivo, entre quais reportagens e documentários sobre o Brasil dos anos 1960.

  • baixar La Capoera (link INA)
  • qualidade técnica do vídeo; preço
  • condições restritivas impostas pelo INA
  • outros programas sobre o Brasil (link INA)

LA CAPOERA

5 mn, preto e branco. Programa Les Coulisses de l’Exploit, edição do 15 maio 1963. Direção: Henri Carrier. Imagens por Bernard Taquet et Serge Ehrler. Som e montagem não creditados. Narração: Georges de Caunes. Programa dirigido por Jacques Goddet e Raymond Marcillac. Produção da Radio-Télévision Française e da Pathé Cinéma. Difusão pela Radio-Télévision Suisse Romande no 13 de maio e pela Radio-Télévision Belge Francophone no 16 de maio.

Georges de Caunes discursa quase o tempo todo do programa, sobre um fundo de música de capoeira pelo grupo de mestre Pastinha.

Uma primeira sequência de um minuto e meio mostra igrejas e transeuntes nas ruas do centro de Salvador, para o narrador concluir que

São sobretudo os bastidores que nos interessam

A parte principal, de aproximadamente 3mn 20s, mostra uma apresentação de capoeira pelo grupo de mestre Pastinha, na praia deserta perto do farol de Itapoan, onde a equipe também filmara os pescadores em reportagem divulgada na edição de 21 agosto 1963 do mesmo programa. Um reco-reco, dois pandeiros e dois berimbaus, um dos quais nas mãos de Mestre Pastinha, compunham a orquestra. Quatro capoeiristas completam o grupo; dois jogam o tempo todo da reportagem, até que no último plano dois outros, até este momento ficando do lado direito da orquestra, os substituem.

Exceto o mestre e um jovem, todos vestem o uniforme do grupo. Cada camiseta tem um desenho diferente, mostrando dois capoeiristas no jogo, da mão do mestre Pastinha.

A reportagem mostra a apresentação de vários pontos de vista. A equipe deslocou bravamente na areia, debaixo do sol de meio-dia, o pesado tripé para que a câmera fique sempre estável. O que escuta-se da música, apesar da narração, deixa pensar que foi gravada em outro lugar, sem o barulho de vento e das ondas do mar na praia. Portanto, o som nunca sincroniza-se à imagem, e pode-se livrar de um comentário de espírito francês e pretensioso, que aliás comporta erros e confusões manifestos, e assistir à reportagem acompanhada do som de um disco de capoeira, por exemplo aquele gravado, alguns anos mais tarde, pelo próprio mestre Pastinha.

O produto do trabalho de profissionais tem por vantagem uma boa qualidade técnica. A boa formação e a experiência madurecida em anos de prática fazem evitar as armadilhas nas tomadas de vista improvisadas. Os profissionais, além de dominar o enquadramento e a iluminação, sabem pedir das pessoas que eles filmam aquilo que sabem que será útil para a futura montagem. Por exemplo, pedem retomar os movimentos onde eram antes de um deslocamento da câmera, para que a ação apareça como contínua.

Infelizmente, apenas uma pequena aristocracia de profissionais pode livrar-se de uma série de normas, métodos e preconceitos que constituem o saber coletivo do seu meio. Os produtores de televisão, angustiados no seu objetivo de atingir o público popular, aquele que segundo eles “só se pode influenciar pela televisão porque não lê” (etc…), têm uma espécie de fobia para com os planos que demoram mais de uns poucos segundos, qualquer seja o seu conteúdo. Por isso, as tomadas de vistas para a televisão sofrem sempre de cortes excessivas. Os mesmos preconceitos levam a variar por sistema e sem necessidade a grossura dos planos. Infelizmente as vistas do jogo de capoeira que mostram os corpos girando de perto demais acabam trazendo apenas uma ideia: que não dá para entender. A imagem chega assim a faltar de respeito ao sentido das ações das pessoas que apresenta-se no programa, para quem, na filmagem, não se sinta respeito nem simpatia, apenas curiosidade.

Assim aparece o aspeto negativo da produção de profissionais que fazem questão de poder tratar de qualquer assunto, como

jornalista de televisão, com conhecimentos sobre todo, capaz de passar do hockey sobre gelo à guerra em Corea de um dia para outro

(Georges de Caunes a Max Favarelli, Samedi et Compagnie, televisão francesa, 14 juin 1969).

Técnica

La Capoera

URI=http://www.ina.fr/archivespourtous/index.php?vue=notice&from=fulltext&full=capoeira&num_notice=1&total_notices=1

Original: 16 mm preto e branco 25 ips, 5 mn

Vídeo internet: 576x432 encodificado DiVX 1000kbps, som mp3 128kbps.

Tamanho do ficheiro: 43MB.

Preço para baixar: 1,5 euros.

Condições restritivas impostas pelo INA

Sob o termo de “venda” o INA concede uma licença para um computador e uns toca-DVD capaz de ler o arquivo DiVx, sem limite de tempo.

Para ver os vídeos do arquivo, precisam obrigatoriamente dispor de um computador sob Windows.

Precisam:

  1. Primeiro baixar (gratuitamente) o programa DivX player.
  2. Pagar ao INA. Se por engano encomendam duas vezes o mesmo programa, por exemplo por não ter conseguido baixar ou por ter mal entendido as instruções (em francês ou em inglês) pagaram duas vezes, apesar de receber uma vez só um programa que vocês não podem passar para outro.
  3. Baixar o arquivo do seu interesse.
  4. Para assistir o programa, sempre com DivX player, precisará de uma conexão internet ativa; o programa checa a sua licença.

Não poderão:

  • Copiar o programa para tocar em outros aparelhos (entretanto, se compraram o programa, poderão declarar tocadores certificados DivX e gravar DVD para tocar nestes).
  • Ligar o seu computador na televisão.
  • Assistir em câmera lenta ou imagem por imagem.
  • Capturar cópia de ecrã.

Se vocês não dispunham de um computador sob Windows, o INA aceita o seu dinheiro, mas vocês não podem baixar o programa, pois somente se faz através de DivX player. A venda de um produto (programa de televisão) não deveria ficar subordenada à compra de outro do qual não depende (sistema de computador), mas é desse jeito.

Estas condições decorrem da aplicação de leis francesas e européias, cuja hostilidade ao público, em defesa dos interesses dos editores, é das mais marcadas, e ainda foi reforçada em junho de 2006.

Não pretendemos entrar aí nas complexidades da discussão sobre o financiamento da produção audiovisual. O INA vende os seus programas no preço da longa-metragem de ficção apesar deles ter custado dez vezes menos caro; e, no que toque a nosso assunto predileto, nenhum capoeirista faz parte dos detentores de direitos, ao contrário dos herdeiros do autor de uma narração da qual o menos que se pode dizer é que se pode dispensar. O INA trata piratas os copiadores privados, mas o Instituto explora o produto de viagem de captura de imagens em paises exóticos por parte de times de televisão muito parecidos aos dos piratas em terras americanas do século, dizesete, ao comparar com a fraternal troca de informação de igual para igual através do internet. Achamos portanto fraca no plano moral a posição do INA, mesmo que seja razoável no plano legal e até talvez comercial, embora esta política custar em termos de construção de servidores. Mesmo que tenham, pelos procedimentos técnicos que usam, despido o usuário de direitos a ele reconhecido pela lei, têm eles, pelo menos, o mérito de não ter conservado os arquivo no segredo dos seus cofres.