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Maurício Rugendas et la capoeira — Viagem Pitoresca no Brasil

Présentation de Maurício Rugendas et de son livre illustré Viagem Pitoresca no Brasil (1827–1835), qui contient la première description publiée et des représentations graphiques du « jogar capoeira » et d'autres danses et coutumes des Noirs au Brésil.

João Maurício Rugendas

Moritz Rugendas, filho de uma familia de relogeiros, pintores, desenhistas e fabricantes de gravuras radicada em Augsburg (Bavária), nasceu em 1802. Se formou no desenho com o pai, diretor da Academia daquela cidade, e depois com Albecht Adam e Lorenzo Quaglio (II) em Munique. Se conhecem dele desenhos e litografias realizados antes dos seus vinte anos.

Em 1821, desejoso de viajar, obteve contrato de desenhista pela expedição de Langsdorff no Brasil. A expedição chegou no Rio de Janeiro em 5 de março de 1822, mas devido à situação política, demorou de partir para a grande viagem no interior prevista pelo organizador. Em outubro de 1822, Rugendas se desvinculou do grupo, perseguindo o seu projeto pessoal. Entretanto, quando no início de maio de 1824 a expedição saiu para Minas Gerais, Rugendas acompanhou-la, até que em 1 de novembro deixou-la definitivamente depois de uma desavença com Langsdorff. Não conhecemos o intinerário de Rugendas no Brasil fora do período em que ele seguia a expedição de Langsdorff. Ele não deixou jornal e poucas cartas chegaram até nós.

De acordo com os resultados da nossa pesquisa nos arquivos, Rugendas chegou por via de terra no Rio no 29 de março 1825, depois de cinco meses de viagem. Se embarcou para Bahia no 4 de junho. Permaneceu nesta região de 15 de junho a 3 de agosto, quando viajou para Europa.

Em 1827 começou a publicação do seu livro ilustrado Viagem Pitoresca no Brasil em Paris pela Engelmann & Cie, editora pioneira da litografia. Teria vinte entregas trimensais de cinco litografias em formato folio (54x34 cm) acompanhadas de texto em alemão ou da tradução francesa (de M. Golbery). Entretanto, a publicação só se completou em outubro de 1835, enquanto Rugendas viajara novamente para a América do Sul em 1831.

A obra foi traduzida para o português por Sergio Milliet e publicado no Brasil em 1940, e reeditada várias vezes.

Foram publicados muitos livros ilustrados sobre o Brasil no decorrer do século XIX. Há de ressaltar a qualidade excepcional da obra gráfica de Rugendas, como também a originalidade dos pontos de vista dele no comentário. Foram poucos os que, naquele tempo, acharam o povo (inclusive e principalmente os negros) tão ou mais interessante que a alta sociedade, a natureza ou os selvagens.

Em relação à capoeira, existem duas imagens e algumas linhas do texto do quarto caderno da quarta divisão do livro “Usos e costumes dos Negros”. A prancha intitulada Jogar Capoeira ou a dança da guerra (oposta às danças do amor) pertence a mesma seção (16a entrega, abril 1835).

O outro desenho de interesse tem por título San-Salvador (primeira divisão, Paisagens, pr. 27, 19a entrega, julho 1835). É uma vista de Salvador tomada de entre a igreja da Boa Viagem e o forte de Monte Serrat; no primeiro plano se vêem quatro negros num grupo de nove, em atitudes que relembram as da capoeira que conhecemos.


pl. 4.18

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JOGAR CAPOEIRA ou Danse de la guerre

Dess. d’ap. nat. par Rugendas – Lithographie de Villeneuve, fig. par Wattier.
16ème livraison (avril 1835)


Texte

A dança mais commun dos negros é a Batuca, e já que um par se junta, já sobe a batida compassada das mãos, com que eles por assim dizer se convidam e entusiasmam para a dança.

A dança da Batuca é dirigida por uma pessoa ; consista principalmente em certos – talvez expressivos demais – movimentos do corpo, sobretudo dos quadris, que o dançarino acompanha estalando a língua e os dedos, e com um canto monótono [p.26], cujo refrão vem repetido pelos outros, formando um círculo ao redor do principal.

O que chamam de Landu é outra dança negra comum, que também é usual entre os Portugueses; é dançada com acompanhamento do bandolim por uma ou duas pares; talvez o reconhecemos, muito aperfeiçoado, no Fandango e o Bolero dos espanhois.

Os negros dançam sem parar muitas vezes noites inteiras aquelas danças; eles escolhem por isso as vésperas dos domingos ou de dias santos.

Precisa-se ainda mencionar uma espécie de dança guerreira.

Dois partidos armados de varas colocam-se um a frente do outro, e a arte consiste em evitar os golpes de ponta do oponente.

Muito mais violento é outro jogo guerreiro dos negros, Jogar capoeira, que consiste em procurar se derrubar um o outro com golpes com a cabeça no peito, que se evitam pelo meio de hábeis saltos de lado e paradas. Enquanto se lançam um contra ou outro mais ou menos como bodes, as vezes as cabeças chocam-se terrivelmente.

Assim acontece não raro, que a brincadeira vira briga de verdade e que uma cabeça ou uma faca ensanguentadas fazem o fim do jogo.


pl. 1.27

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SAN-SALVADOR

Dess. d’ap. nat. par Rugendas – Lithographie de Sabatier, fig. par Wattier.
19ème livraison (octobre 1835)